No sábado (07) a psicóloga Anna Mehoudar veio bater um papo na Maria Barriga, para comemorar o Dia dos Pais. Ela falou sobre “o casal antes e depois da gravidez”, as expectativas do casal, e o que significa ser pai hoje.
Confira a entrevista:
Anna, como você entrou na psicologia maternal?
Eu terminei a faculdade de psicologia grávida, então a questão de maternidade com a psicologia já marcou tudo. Em 1982, quando eu tive meu segundo filho, fui convidada para trabalhar com encontros de grupo, e começamos a dar forma ao trabalho, e surgiu o GAMP – Grupo de Apoio a Maternidade e Paternidade, do qual eu sou coordenadora hoje.
Porque há tantas mudanças no casal antes e depois da gravidez?
Eu acho que tem a ver com uma idealização do casal e do casamento. Que as pessoas acharem que a felicidade está no casamento, está na paixão.
Então tem um ideal de felicidade que é vendido hoje, como se o casamento, a união, fosse a resposta para tudo aquilo que a pessoa quer. E fica depositado no outro a expectativa de felicidade, como se o outro fosse resolver todas as suas questões amorosas, pessoais, financeiras, de família, enfim, é muita expectativa.
Então a gente tem que se perguntar o que é alma gêmea, o que é o ‘mesmo’, o que é a metade da mesma laranja. E na hora que tem o filho, o casamento pede outras coisas, é outro casamento.
Qual é a principal mudança, depois do parto?
A necessidade de conjugar, de um olhar para o outro e os dois olharem para o filho. E isso é difícil. A tendência do filho é tirar o casamento do foco. Então se o casal não estiver centrado em alguma outra ideia de casamento, o casamento vai pro fundo. E é interessante, porque o maior número de separações é pós-criança. A criança é valorizada e ao mesmo tempo ela é causa da separação dos pais.
Não se sabe mais como educar a criança. Então eu acho que a modernidade está vivendo um momento onde se deve repensar o que é casamento, o que é ter filho. E eu não sei se dá pra entender realmente o que é ter filho, sem ter um. E se apresenta o casamento, a felicidade, como um produto.
A mulher muda durante a gravidez, e principalmente depois do parto, com a criança. O corpo dela muda, mas não é só a mudança estética, muda porque ela passou por muita coisa, então o casamento é outro.
E o casal precisa se preparar não para uma continuidade da paixão, mas para um momento da paixão.
E então esse casal que acabou ‘comprando’ a felicidade idealizada do casamento não vai resistir a mudanças tão fortes…
Eu acho que às vezes o casal nem sabe que compra. Mas a mudança é tão forte, quando a criança vem, ela vem com a força da vida, da mudança e do crescimento. Uma força que o casal precisa olhar para o filho e educar, e aí eles se perdem.
Então o casamento precisa ser pensado na condição de incluir a ternura, a parceria, o companheirismo e diversão.*
Anna é membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e coordenadora do GAMP – Grupo de Apoio a Maternidade e Paternidade.