
Cris Poli: É exatamente isso: os pais estão perdidos com respeito à educação dos filhos. Não sabem colocar limites, orientá-los, exercer sua autoridade.
Mas se tem falado muito de limites ultimamente. Por que é tão difícil colocá-los em prática?
Essa geração de pais, com filhos pequenos e até adolescentes, foi educada com limites. Depois, a psicologia deu uma reviravolta e começou a dizer que não se podia traumatizar as crianças, que se devia fazer as vontades, e eles quiseram aplicar isso com os filhos. Mas não dá certo. É preciso ensinar à criança o que ela pode ou não fazer. A educação está voltando para essa linha. Não tão rígida e autoritária quanto antigamente, mas reconhecendo a necessidade dos limites.
Como se chega ao equilíbrio entre permissividade e rigidez?
Tem de conversar, estabelecer regras, explicar. Quando você coloca isso no dia-a-dia, o filho se encaixa naturalmente.
Nos programas realizados no exterior, fala-se muito de introduzir uma rotina estruturada para a família…
A criança precisa saber o que vai acontecer durante o dia. Saber que vai tomar café, que tem hora de escola, de banho.
Desde bebê?
Sim. Quando a criança nasce, ela não sabe de nada e vai entrando no ritmo da família. Se os pais acordam cedo, com certeza ela acabará acordando cedo. Se vão dormir tarde, idem. Cabe aos pais estabelecer a rotina. Um exemplo: pode acordar para mamar de madrugada? Sim, mas tem de ficar claro que é só para se alimentar, e não brincar. Se o bebê acorda às 2 horas e os pais ficam conversando ou brincando, ele vai acompanhar.
Quais os problemas mais comuns no programa?
Dificuldades na hora de dormir são uma constante − ou a criança não quer dormir sozinha, só no quarto dos pais, ou adormece no seu e, no meio da noite, muda para a cama deles…
Como resolver?
A primeira coisa é dizer à criança “agora é hora de dormir”. Aí, ela inventa mil e quinhentas coisas, que tem sede, que deixou o brinquedo lá fora… Mas a mãe deve repetir que é hora de dormir e colocá-la na cama. Se ela levantar, repete mais uma vez e a leva de volta. Na terceira vez, a mãe faz a mesma coisa. Depois, se ela continuar levantando, a mãe só a coloca de volta na cama e não fala nada. Não pode falar. Não pode olhar no olho. O contato visual pega o emocional da mãe.
E se for um bebê, que não sai do berço, mas chora por não querer ficar ali?
Mesmo que o bebê não entenda, o pai e a mãe devem dizer que é hora de dormir. A criança precisa se acostumar a saber o que vai acontecer na vida dela. Então, a mãe diz isso, coloca o bebê no berço, deixa-o à vontade e se afasta. Se ele chorar e a mãe perceber que é manha, ela fica do lado, dá uns tapinhas no bumbum, coloca a mão junto dele e fala: “A mamãe está aqui, é hora de dormir”. Ele vai chorar até se acalmar. A mãe deve ficar do lado, mas sem pegar no colo, nem brincar nem ninar. O bebê tem que perceber que lugar de dormir é no berço. Mas isso requer paciência, perseverança e consistência. E acontece que os pais estão cansados, trabalharam o dia todo… É muito mais fácil pegar o filho, balançar no colo, esperar que ele durma e colocá-lo na cama. Só que ele vai se acostumar com isso, e a culpa será dos pais.
Problemas na hora da alimentação são frequentes?
Sim. E, de novo, a gente estabelece a rotina e ensina os pais a fazer da refeição um momento agradável. Mostramos como colocar uma mesa bonita, para que as crianças se sintam estimuladas. Como ensiná-las a comer verdura… E os pais idem, porque, quando o filho não come salada, geralmente os pais também não. Observação é importante: se seu filho come pouco, não adianta encher o prato. A refeição tem que deixar de ser traumatizante e passar a ser um momento de convívio gostoso, em que pai e mãe sentam e conversam com a criança. A refeição é um momento de unidade da família, e a gente tenta resgatar isso… Mesmo com falta de tempo, é preciso criar esse momento. Só pode ser o café da manhã do domingo? Então, será!
E com relação à birra, o que a senhora recomenda?
Regras. Uma delas é não gritar nem chorar sem motivo. A criança quer uma coisa? Peça sem berrar ou chorar. Não pode bater, não pode brigar com os irmãos. Se não obedecer isso, entra em cena o cantinho da disciplina.
O que é isso?
Pode ser um banquinho, um pufe, um tapetinho, um canto mesmo − só não é o quarto, porque quarto é para dormir. Quando a criança desobedece, a mãe deve chamá-la, olhá-la nos olhos e dizer: “Você quebrou essa regra e não pode. Se quebrar de novo, vai para o cantinho”. Caso ela repita o erro, a mãe a leva até lá e a deixa ali durante um minuto para cada ano de idade, convidando-a a refletir sobre o que fez. E não fica perto. Se a criança sair do lugar, chorar, é preciso levá-la de volta. Se saiu 50 vezes, 50 vezes você faz isso. Não fica conversando, porque já explicou antes o motivo de ela estar ali. A partir do momento em que a criança para, você começa a contar os minutos. Quando acabar, volta e pergunta: “Você sabe por que está aqui? Então, peça desculpas”. Aí, se a mãe vê que é de coração, dá um beijo, um abraço e libera para brincar. É importantíssimo não perder o controle, não ficar brava, não se irritar, porque você está educando.
E quando a criança cumpre as regras?
Daí, usa-se o método do incentivo. Uma opção é registrar num quadro as vezes em que a criança cumpriu as regras. Todo fim de dia, os pais sentam com os filhos e avaliam o comportamento. Se cumpriram o combinado, ganham estrelinhas no quadro, por exemplo. No fim de semana, conforme o que alcançaram, eles têm um prêmio: uma saída em família, um momento de lazer diferente… Não recomendamos presentes para não ficar a idéia de ter “comprado” a criança.
A senhora tem três filhos. Usou esses métodos com eles?
O método mesmo, como estou explicando par
a você, não, porque na época não o conhecia nem tinha a experiência que possuo hoje. Mas os princípios de que falei, sim. São princípios de vida e de família.*